A maioria dos jornalistas sempre mantém um certo cuidado quando vai falar de grandes corporações. Quando essas são Rede Globo e CBF, o cuidado é redobrado. Não acho que seja medo ou “rabo preso”, mas simplesmente é difícil saber o que são fofocas, teorias da conspiração e o que de fato acontece em reuniões fechadas dessas cúpulas.

(Para um resumo do que aconteceu entre Dunga, CBF e Globo, sugiro a leitura desse resumo, do Blog do Tão Gomes e uma atualização do caso pelo UOL Esporte.)

Minhas considerações:

1) A Globo tem preferência em apurações de casos sobre as outras emissoras e veículos, isso é fato. Assessorias de imprensa geralmente não negam pedidos de entrevistas do Jornal Nacional e/ou Fantástico justamente por saberem a quantidade de pessoas que assiste aos programas. Goste você ou não, é assim que tem sido nos últimos 40 anos.

2) O Dunga tem todo o direito de negar entrevistas, seja quem estiver pedindo. É como um professor em sala de aula. Há as regras do colégio, da diretoria, mas dentro da sala de aula, ele é quem diz como as coisas serão.

3) Sabendo que negar entrevistas (exclusivas ou não) para qualquer programa da Globo não é uma prática comum, espera-se, no mínimo, um incômodo por parte do repórter, do editor, do editor-chefe, do editor-executivo, do diretor de jornalismo etc que não estão acostumados com isso.

Agora, a parte onde as coisas começam a ficar complicadas:

a) Como veículo (ou profissional de um) você tem que estar preparado para que coisas assim aconteçam. Professores de jornalismo adoram dar exemplos de políticos que se recusaram a falar e, justamente toda a recusa, foi a matéria do jornalista. Ficar ofendido, achar um absurdo e querer queimar a imagem de quem fez isso com você é antiético.

b) Eu disse que o Dunga tem todo o direito de negar uma entrevista (dele ou dos jogadores), mas há jeitos e jeitos para se fazer isso. A postura de ataque e ofensa do técnico da seleção brasileira também é antiética e antiprofissional. Se ele tem um problema ou se incomoda com a Rede Globo (ou qualquer um de seus funcionários), perde toda a razão ao atacá-los de forma grosseira e xingando. Se ele tivesse dito apenas “Desculpem, mas os jogadores nem eu estamos dando entrevistas coletivas” – Mas o Ricardo Teixeira nos autorizou. “OK, mas mesmo assim, não vamos dar as entrevistas” e fim, não faria sentido o editorial lido por Tadeu Schmidt no Fantástico. Não teria acontecido grosseria nem nada. Do que Dunga poderia ser acusado? “Ele não falou conosco como fizeram todos os técnicos anteriores”? A Globo não faria isso, por saber que um veículo só é preferencial ao outro quando decidem agir assim com eles, mas que nenhum veículo de imprensa pode exigir isso, de quem quer que seja.

c) Assim como o professor na sala de aula, o diretor pode decidir tirá-lo do corpo docente do colégio e simplesmente acabar com esse problema pra ele. Porém, se o professor é competente, dá resultados, os alunos gostam dele, as outras classes também etc, e o professor chega pra conversar e não simplesmente sacar a espada, o diretor também não tomará uma atitude radical, já que também não quer se queimar.

No fim das contas, todos se queimaram. Dunga com a CBF, com a Globo e com os jornalistas que defendem a classe. A Globo com a população, que já tem uma visão conspiratória da emissora, além de se queimar com os jogadores e o (ainda) técnico da seleção, que sempre estiveram presentes nas câmeras do canal 5, dando audiência e trazendo a simpatia do povo. E a CBF, que precisa esperar o término da Copa para decidir o que fazer.

Agora, o que realmente me “diverte” é ver que em quatro anos o circo estará armado na nossa casa, onde também moram todos esses personagens. Vai ser uma história legal de ser acompanhada (e contada). Afinal, estamos aí para isso, né, pelas histórias.

(esse texto do PVC, da ESPN, complementa um pouco o meu pensamento)