Não sei até quantos anos acreditei em Papai Noel, mas lembro da última vez em que achei fosse possível que ele existisse. Eu já não acreditava nele, mas um tio de meu pai, psicólogo, quis brincar com a gente. Passaríamos aquele Natal na casa deles e, semanas antes, ele começou a jogar no ar esse assunto. Perguntava se eu ainda acreditava em Papai Noel e quando disse categoricamente que não, que besteira, ele perguntou “Por que?”. Aí deu um nó, claro. E foi assim por algumas semanas.

No dia 24 de dezembro, fomos para a casa de meus tios e tudo correu como o planejado. Jantar, conversas, risadas etc. Pouco antes da meia-noite, meu tio voltou ao assunto “Papai Noel” e começou a dizer que ele existia sim. De repente, ele parou de falar. Ficou olhando para o nada, como um caçador tentando ouvir os passos de sua presa. “Acho que tem alguém lá fora”. Dei risada, já imaginando o que ele estava tentando fazer. Ele continuou sério, não dando bola para mim. “Sério, ouçam” e ficamos todos em silêncio. Ouvimos alguns passos e corremos para o andar debaixo da casa. Havia presentes no quintal e me assustei, pois tinha ido lá pouco tempo antes e não vi nada. Meu tio continuava sério e ficamos em silêncio novamente. Ouvimos o som de guizos na varanda de cima e subimos correndo a escada que ligava o quintal àquela varanda. O som dos sininhos foi ficando distante e eu fiquei olhando para todos os lados, para cima, procurando alguma coisa, sem saber o que exatamente.

Fiquei um tempo olhando para o céu, estrelado. Estava admirado por algo tão mágico ter acontecido naquela noite e eu estar presente. Ainda não sei como meu tio fez aquilo, já que em nenhum momento ‘sumiu’ alguém da família. Na verdade, prefiro não saber. Nunca perguntei e pretendo que continue assim.

Vivi aquela experiência como a última vez em que acreditei no senhorzinho de barba branca e roupa vermelha. Mesmo sabendo que ele não existia, acreditei pra valer e, de certa forma, ele acabou existindo, para mim. Pela última vez, é verdade, mas com a lembrança de um tempo em que eu acreditei no Papai Noel.

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foto: Oscar Segovia