A gente não se machuca mais, né? Estamos sempre com tanto medo da ferida que não nos arriscamos. Lembro de joelhos ralados, onde nem dava tempo de tirar a casquinha, já que o asfalto fazia isso por mim. Pensei nisso pois não foram poucas as vezes que caí de skate ou bicicleta e as palmas das minhas mãos ficaram no mínimo raladas para salvar alguns dentes e o nariz. É sadismo sentir saudade de ter as mãos avermelhadas e latejando (você ainda lembra da sensação?) pelo impacto no paralelepípedo? Ou é nostalgia de ter tempo para se machucar, ficar sarado e se machucar de novo?
Existe aquela velha piada de dois caras adultos que vão brigar e um diz para o outro “Só não bate no rosto, que amanhã eu trabalho”. Não podemos ficar doentes, nos machucar ou sofrer. O trabalho não deixa. Mesmo que você não vá para um escritório, trabalhe de casa ou seja freela, você tem coisas a fazer e não pode se dar ao luxo de ficar machucado. Acabamos diminuindo nossas feridas e, quando vemos, estamos deixando de lado as feridas dos próximos também.